"Eu te vejo sempre,
minha Mãe querida,
como te pintou, na minha alma,
o Anjo do meu baptismo.

À volta da igreja,
eu adormecera como um passarinho,
entre plumas brancas de rendas,
feitas pelos teus dedos de milagre…

Debruçada e ajoelhada,
junto do meu berço,
a tua mão em concha,
servindo-me de travesseiro,
tu fitavas-me, ansiosa,
a pensar no meu destino,
e dos teus olhos,
como das asas do Espírito Santo,
caía, sobre a minha fronte,
uma luz misteriosa
que doirava todo o quarto…

A nossa casa estremecia
nos ruídos alegres de festa
e apenas no meu quarto,
onde estávamos sós,
havia silêncio,
sonho,
melancolia…

Então,
para o bulício do mundo
me não acordar,
tu prendeste e guardaste
o meu sono,
cantando-me baixinho,
com lágrimas nos olhos…

E foi assim,
entre as rendas belas
das tuas mãos,
e a graça divina
dos teus olhos,
que,
a embalar-me e a cantar-me
geraste em mim
o meu sonho de beleza…

Agora, Mãezinha,
venho eu guardar
o teu sono,
embalar
o teu sepulcro,
no murmúrio
destes poemas,
para veres como floriram,
as canções
que semeaste à beira
do meu berço !…"

( dESCONHEÇO O AUTOR )