É editor-executivo de ÉPOCA
Uma das minhas colegas de redação repetiu, outro dia, a frase que ela ouviu de um antigo chefe: “Por que casar? É a metade da diversão pelo dobro do preço...”
Nós falávamos, claro, de casamento, e ela tentava arrancar de mim, que estava escrevendo a capa da ÉPOCA da semana passada sobre esse mesmo assunto, uma resposta à pergunta que, para ela, parece essencial: por que as pessoas se casam se podem continuar namorando, que é muito mais gostoso?
Mesmo tendo acabado de ler Committed (em português, Comprometida), o novo livro de Elisabeth Gilbert, (a autora de Comer, Amar, Rezar), que discute, em suas quase 300 páginas, os prós e contras do casamento, eu fui incapaz de responder à pergunta da colega – e aquilo me deixou incomodado.
Percebi que talvez ela esteja certa. Talvez as discussões sobre casamento comecem num ponto de partida equivocado. Elas opõem estar casado a estar sozinho, ou sozinha. Se a opção fosse entre estar casado e ter um namorado, ou namorada, a discussão seria a mesma? Suspeito que não.
No passado, comparar namoro a casamento não faria sentido. Quando os casais não podiam nem ir ao cinema sozinhos, casar oferecia a única possibilidade duradoura de intimidade entre homem e mulher. Intimidade física, sobretudo. Era também a única maneira respeitável de fazer filhos. E as mulheres, é bom lembrar, não eram autosuficientes economicamente: dependiam dos homens para o seu sustento. O casamento era uma garantia.
Nada disso se aplica mais. Com pequenas resistências conservadoras lá e cá, as pessoas no Brasil de hoje transam com quem quiser, quando quiserem. O direito à intimidade sem casamento parece assegurado. Quanto aos filhos, vale o mesmo. Embora a família tradicional (desde que estruturada) ainda ofereça o melhor ambiente para educação das crianças, está cheio de gente por aí que cresceu com pais separados ou na ausência total de pai e mãe. E tudo bem. De independência econômica nem é necessário falar. As mulheres já trabalham como homens e logo estarão ganhando tão bem (ou tão mal) quanto eles. Questão de tempo, me parece.
Logo, a questão retorna: por que as pessoas insistem em casar se é tão fácil viver em casal e mesmo ter filhos fora do casamento?
A minha teoria é que as pessoas se casam no Brasil pelo mesmo motivo que compram casa própria – a tradição da terra diz que é importante e, intimamente, todos desejam se proteger da incerteza do futuro. Como vou poder pagar o aluguel se, de uma hora para outra, eu não tiver mais renda? Em termos afetivos, como evitar a solidão e o desamparo se, ao envelhecer, não tiver ninguém ao meu lado sob contrato? Quando se trata da casa, a compra faz sentido. No casamento, a garantia é cada vez mais ilusória.
Antes de prosseguir na discussão, é necessário sublinhar o óbvio: os casamentos falham. Em grande quantidade, de forma dolorosa e com enormes custos pessoais e sociais.
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