Às vésperas de cada Carnaval, a dieta radical da dançarina Adriana Bombom, madrinha da bateria da Portela, no Rio, e da Tom Maior, em São Paulo, vira notícia. Adriana afirma que, nos três meses que antecedem os desfiles, ela come apenas batata cozida e clara de ovo. A cada duas horas, lá está ela comendo 25 gramas de batata e três claras. E mais nada. Durante um trimestre inteiro. 

Sinceramente, não acredito que uma pessoa consiga seguir um regime monótono como esse durante tanto tempo e sem enjoar. Telefonei para Adriana a fim de checar a história. Ela reafirmou que não come mais nada além disso. Mas admite que a dieta é muito difícil. “No começo, dá um tremendo mau humor”, afirma. Durante os três meses, ela diz sentir vontade de comer gostosuras que no resto do ano não lhe atraem muito, como uma taça de sorvete e um belo brownie. O corpo de Adriana também pede carne. “Estou louca para ir ao Outback”, diz ela, referindo-se à rede americana conhecida pelas enormes porções. 

Adriana não está sozinha. A dieta é seguida por muitos marombeiros. O argumento deles é que esses alimentos fornecem tudo o que é necessário para fazer uma musculatura se desenvolver: carboidratos (encontrados na batata) e proteínas magras (na clara de ovo). “Isso é um mito”, diz a nutricionista Fernanda Pisciolaro, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. “O crescimento muscular depende desses nutrientes e de muitos outros fatores, como consumo de gorduras para a condução de algumas vitaminas, ingestão de uma quantidade de energia adequada, exercício, repouso, boa hidratação etc”, diz Fernanda. 

Orlando Oliveira
SACRIFÍCIOS EM NOME DO CARNAVAL 
Adriana Bombom faz uma dieta rigorosa para desfilar em forma. Ela precisa mesmo?

Adriana não está convencida disso. Acha que sua saúde não corre riscos porque toma suplementos vitamínicos. Diz que o resultado – um corpo cheio de músculos muito bem definidos – compensa o esforço. Na minha opinião, Adriana é linda. É um espetáculo vê-la sambando em cima do salto com todo o vigor que sua musculatura rígida permite. Há quem discorde. Um colega meu acha que ela exagerou na malhação e está parecendo o Robocop. Meu marido diz que homem gosta de mulher do tipo gostosona e não das muito musculosas. Prefere Viviane Araújo, rainha da bateria do Salgueiro, a Adriana Bombom – como não vai conseguir chegar perto de nenhuma das duas, desconsiderei o comentário. 

Essa é uma questão de gosto. Continuo achando que há público para as duas - e para todas as outras passistas. O que me preocupa nessa história é a má influência que a dieta de Adriana possa ter sobre as brasileiras. Quantas mulheres fora de forma não devem estar nesse momento tentando seguir essa dieta maluca? Assim como outros regimes radicais – como a Dieta da Lua, da Sopa ou dos Shakes – o regime de Adriana é o caminho mais curto para o efeito sanfona. Quem perde quatro quilos engorda oito quando volta a comer normalmente. E ainda corre o risco de ter desnutrição, perda muscular, fraqueza e até um transtorno alimentar grave. 

É preciso lembrar também que a comida tem outras funções. Temos uma relação com ela que vai muito além do simples fornecimento de nutrientes. A comida acalma, dá felicidade, nos traz lembranças, nos insere socialmente. “Uma dieta tão restrita poda muitos fatores essenciais à vida humana”, diz Fernanda. Nem mesmo Adriana recomenda seu próprio regime. “Não sou exemplo para ninguém”, diz. “Copiar a dieta dos outros é furada.” 

A determinação e o profissionalismo de Adriana são admiráveis. Mas acho que ela pode estar sofrendo à toa. Se adotasse uma alimentação equilibrada e continuasse firme na rotina de exercícios (2 horas de musculação e dança por dia), chegaria a Marquês de Sapucaí linda como sempre. 

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