O GRITO
Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta
a seus discípulos:
-Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
-Gritamos porque perdemos a calma. -disse um deles.
-Mas, por que gritar quando a outra pessoa está
ao seu lado? -questionou novamente o pensador.
-Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa
nos ouça.-retrucou outro discípulo. E o mestre volta a
perguntar:Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma
convenceu o pensador.Então ele esclareceu:
Vocês sabem por que se grita com uma pessoa?
O fato é que quando duas pessoas estão
aborrecidas, seus corações se afastam muito.
Para cobrir esta distância
precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente.
Quanto mais aborrecidas estiverem, mais
forte terão que gritar para ouvir um ao outro,
através da grande distância.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas
estão enamoradas?
Elas não gritam. Falam suavemente.E por quê?
Porque seus corações estão muito
perto.A distância entre elas é pequena.
Às vezes estão tão próximos seus corações,
que nem falam, somente sussurram.
E quando o amor é mais intenso, não necessitam
sequer sussurrar, apenas se olham, e basta.
Seus corações se entendem. É
isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão
próximas.Quando vocês discutirem, não deixem que seus
corações se afastem,não digam palavras que os
distanciem mais,pois chegará um dia em que a distância
será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.
Mahatma Gandhi
Tem gente que tem cheiro
de passarinho quando canta,
de sol quando acorda,
de flor quando ri.
Ao lado delas,
a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande,
sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas,
a gente se sente comendo pipoca na praça,
lambuzando o queixo de sorvete,
melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro
de colo de Deus,
de banho de mar
quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas,
a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas,
a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo,
sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas,
pode ser abril,
mas parece manhã de Natal,
do tempo em que a gente acordava
e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro
das estrelas que Deus acendeu no céu
e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas,
a gente não acha que o amor é possível,
a gente tem certeza.
Ao lado delas,
a gente se sente visitando um lugar feito de alegria,
recebendo um buquê de carinhos,
abraçando um filhote de urso panda,
tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas,
saboreamos a delícia do toque suave
que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro
de cafuné sem pressa,
do brinquedo que a gente não largava,
do acalanto que o silêncio canta,
de passeio no jardim.
Ao lado delas,
a gente percebe que a sensualidade
é um perfume que vem de dentro
e que a atração que realmente nos move
não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas,
a gente lembra que no instante em que rimos
Deus está conosco, juntinho, ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você,
que nem percebe como tem a alma perfumada
e que esse perfume é dom de Deus.
Carlos Drummond de Andrade