O mundo não deixa de girar, e nós vamos passando, a olhar para o futuro, um espelho sem vidro no qual ninguém penetra. Já vejo o ano-novo com algum tédio, embora, é claro, sem perder o interesse nos fatos e nas pessoas, porque isso é assumir a velhice. Quem quiser, assuma. Eu, não. Até porque, como está no cartório, não cheguei lá. Ainda estou no seu subúrbio. E depois de termos visto findar algumas dezenas de vezes o ano-velho, há um processo fácil para saber se já não envelhecemos por dentro: -- é descobrir em nós o sentimento da alegria e da esperança, no momento em que desponta o ano-novo, com seu alarido de luzes e cores. Outrora, quando o ano-novo chegava, bimbalhavam os sinos de todas as igrejas, principalmente nas pequenas cidades aconchegadas, onde toda gente se conhece. Hoje, com o ruído ensurdecedor dos milhares de automóveis e das centenas de motos, se os sinos ainda tocam, não mais os escutamos. E a verdade é que a alegria está nas ruas, nas casas, nos clubes, no bar da esquina, na orla da praia. O ano-novo, que aqui está a dar os primeiros passos, merece que o acolhamos de rosto aberto. O ano-velho, que ontem nos voltou as costas, a caminho da Eternidade, cumpriu o seu ofício. O novo, com seu carregamento de surpresas, ainda não disse a que veio. É cedo para fazê-lo. Ainda traz em si a expectativa da novidade. Será bom? Será ruim? O que sabemos é que será ele próprio, na configuração que lhe der o futuro - com a nossa colaboração. Consulto minha memória, no balanço do ano que findou, e reconheço, no repasse de seus 365 dias, que não fiz mal a ninguém, por ato deliberado ou voluntário de minha iniciativa, mas dei a alguns amigos, e mesmo a alguns desconhecidos, por interpostos amigos, a alegria que estava a meu alcance. O tempo que Deus me deu, se não o empreguei na realização de grandes obras, eu o aproveitei na medida de minhas forças, com o melhor de mim mesmo. A família chegou ao fim da jornada, protegida pela vontade divina. E eu escrevo estas palavras profundamente agradecida aos céus. Ajoelho-me e peço a Deus que nos abençoe a todos. 

Regina Marshall